Argentina repete filme, bate o México e vai atrás da Alemanha nas quartas
Gol ilegal de Carlitos Tevez abre caminho para a vitória por 3 a 1 dos hermanos, que encaram na próxima fase o algoz da Copa de 2006
A figura de Maradona à beira do campo, envergando seu terno cinza, ajuda a lembrar que este não é um filme repetido. O técnico é novo, mas o roteiro argentino no mata-mata da Copa de 2010 vai se desenhando como um plágio de 2006. Neste domingo, a vítima foi o México, assim como tinha sido há quatro anos, com a diferença de que foi um gol ilegal de Tevez que abriu o caminho para a vitória por 3 a 1. Cenas do próximo capítulo: no sábado, às 11h, na Cidade do Cabo, está marcado para as quartas de final um duelo de campeões, daqueles que fazem tremer estádio. Do outro lado do campo, a Alemanha, algoz dos hermanos no último Mundial. Saiam da frente.
Em 2006, a Argentina bateu o México na prorrogação, com gol de Maxi Rodríguez, e foi eliminada pelos alemães nos pênaltis. Maradona, que estava na arquibancada há quatro anos, espera que desta vez a segunda parte do filme tenha um final mais feliz.
No domingo, diante de 84.337 torcedores no Soccer City, justamente quando o México estava melhor no início do jogo, Tevez abriu o caminho com um gol em claríssimo impedimento, ignorado pelo juiz. Higuaín fez 2 a 0 e assumiu a artilharia da Copa, com quatro tentos. O próprio Tevez, com um golaço de fora da área, ampliou o placar, e os mexicanos ainda diminuíram com Hernández.
O jogo
O primeiro embate do dia foi entre o goleiro Perez e um enorme rolo de papel higiênico jogado pela torcida no meio do campo. O juiz italiano Roberto Rosetti parou o jogo aos cinco minutos, e o carequinha que guarda as traves mexicanas se encarregou de fazer a faxina no gramado.
Messi se engraçou aos sete, em jogada individual que terminou em chute prensado na zaga. Mas o primeiro grande susto saiu logo depois, pelos pés de Salcido, que soltou um foguete do meio da rua e por pouco não surpreendeu Romero: o goleiro fez mão de maionese e a bola explodiu no travessão. No ataque seguinte, Guardado bateu forte de fora da área e, com incrível efeito, a Jabulani passou raspando a trave.
O camisa 10 da Argentina arrancou de novo aos 12, ganhou do zagueiro na corrida, mas tentou uma jogada que nem o maior craque da Copa consegue: encobrir um goleiro que estava em cima da linha.
Nos primeiros 15 minutos, três finalizações para cada lado, mas o México chegava com mais perigo. E a defesa conseguia a proeza de anular as jogadas argentinas pelas pontas. Engarrafado no meio, Messi tinha que voltar até a linha do meio de campo, sempre com pelo menos dois jogadores beliscando seus calcanhares.
A solução para sair dessa enrascada? Uma ajudinha do apito. Aos 26, Messi rolou para um Tevez em posição duvidosa. O atacante dividiu com o goleiro e a bola voltou para o camisa 10 que tentou encobri-lo. Aí reapareceu Tevez, e desta vez sua posição não tinha nada de duvidosa. Completamente impedido, Carlitos cabeceou livre para o fundo da rede.
Enquanto Tevez se ajoelhava perto da bandeirinha de escanteio e mordia o escudo na camisa, os mexicanos voltavam para dar a saída no meio de campo. Foi aí que o telão do estádio, contrariando o habitual na Copa, mostrou o replay do lance, com tira-teima e tudo. Resultado: um exército verde partiu em direção ao árbitro italiano. Rosetti ainda foi consultar o assistente Stefano Ayroldi, mas a dupla confirmou a lambança: Argentina 1 a 0.
Aos 33, os hermanos receberam outra ajuda generosa, desta vez do zagueiro mexicano Osório, disparado o pior em campo no primeiro tempo. Na entrada da área, o camisa 5 recebeu a bola sozinho, tranquilo, soberano, só ele e a Jabulani. Mesmo assim conseguiu se enrolar todo. Entregou o ouro para Higuaín, que, surpreso com o presente, invadiu a área e teve frieza para driblar o goleiro antes de fazer o segundo.
Artilheiro da Copa com quatro gols, Higuaín partiu acelerado em direção a Maradona, que agradeceu com um abraço caloroso. Pouco antes, ganhou os parabéns do lateral Heinze, que não percebeu o cinegrafista à beira do campo e – bum – deu uma cabeçada na câmera. Em um milésimo de segundo, a euforia virou fúria, e o argentino, no reflexo, deu um tapão no equipamento.
Os dois gols deram um banho de água fria no México, e a Argentina teve chances para ampliar. Aos 36, Di Maria chutou cruzado e obrigou Perez a fazer grande defesa. Quatro minutos depois, Higuaín ganhou de Osório – sempre ele – no alto, mas cabeceou para fora.
Repleto de tensão, o primeiro tempo terminou com bate-boca e empurra-empurra na saída para o vestiário. Na boca do túnel, o bolo de gente incluía jogadores mexicanos, Maradona, reservas argentinos. No fim das contas, o tumulto foi controlado e todos desceram na santa paz para os 15 minutos de descanso.
Na volta para o segundo tempo, Javier Aguirre tirou Bautista – que não fez absolutamente nada em seus únicos 45 minutos na Copa – e lançou o atacante Barrera. A estratégia ofensiva do México, contudo, foi dizimada por um torpedo inapelável de Tevez aos sete minutos. O camisa 11 perdeu a bola para os zagueiros na frente da área, mas recuperou a posse e não pensou duas vezes: um canudo no ângulo de Perez, golaço, 3 a 0 para os hermanos.
Aos poucos, o México voltou a respirar. A equipe aumentou o volume de jogo e chegou algumas vezes, principalmente com chutes fortes de fora da área. Guardado, Salcido, cada um foi tentando o seu, e o goleiro Romero botava para escanteio ou via a bola sair para tiro de meta. Hernández teve sua chance de cabeça aos 17, mas mandou por cima do travessão.
Aos 23, descanso merecido para o guerreiro Tevez. Autor de dois gols, ele deixou o campo para a entrada de Verón e ganhou o abraço agradecido de Maradona.
O esforço asteca persistiu. Aos 24, Heinze salvou em cima da linha o gol de Barrera. Aos 26, não houve jeito. Hernández botou na frente, criou espaço dentro da área e encheu o pé esquerdo, balançando a rede de Romero.
Com Messi apagado, a Argentina não conseguia emplacar seus contra-ataques. Mas deu um jeito de segurar o ímpeto verde e manter o placar a seu favor. O camisa 10 ainda teve uma chance de marcar no último minuto, mas esbarrou no goleiro Perez. Agora, é pensar na reprise de sábado – torcendo para que não seja uma reprise até o fim.
Romero, Otamendi, Demichelis, Burdisso e Heinze; Mascherano, Maxi Rodríguez (Pastore) e Di Maria (Jonás Gutiérrez); Messi, Tevez (Verón) e Higuaín. | Perez, Juarez, Rodríguez, Osório e Salcido; Rafa Márquez, Torrado, Guardado (Franco) e Giovani dos Santos; Bautista (Barrera) e Hernández. |
Técnico: Diego Maradona | Técnico: Javier Aguirre |
Gols: Higuaín, aos 26, Tevez, aos 33 do primeiro tempo; Tevez, aos 7, Hernández, aos 24 do segundo. | |
Cartão amarelo: Rafa Márquez. | |
Estádio: Soccer City (em Joanesburgo). Data: 27/6/2010. Horário: 15h30m. Árbitro: Roberto Rosetti (Itália). Assistentes: Paolo Calcagno (Itália) e Stefano Ayroldi (Itália). Público: 84.337. |
Fonte: GloboEsporte
À la 1966, Alemanha se vinga, goleia e avança
Gol inglês não validado remete à erro na final daquela Copa
Alemanha e Inglaterra fizeram um jogo digno de um grande clássico, neste domingo, em Bloemfonteim. Com a goleada por 4 a 1, a Alemanha avançou às quartas de final do Mundial.
É difícil precisar, mas um gol não validado de Lapard – quando a Alemanha vencia por 2 a 1 – poderia ter sido um ingrediente decisivo para que os ingleses escrevessem um roteiro com um final mais feliz.
Assista os Gols | Confira a Tabela
RESPEITO, GOLS E ERRO
Como era de se esperar, alemães e ingleses fizeram da cautela as suas marcas registradas no início da partida. Muito respeito de parte a parte, pouca ofensividade e passes para o lado marcaram o início do duelo europeu.
Mesmo que de forma sutil, a Alemanha demonstrava superioridade em Bloemfontein. Com mais uma atuação apagada de Gerrard e Lampard, Rooney, novamente, não esteve bem. Por sua vez, os tricampeões do mundo tinham melhor articulação, presença no meio de campo e um elogiável jogo coletivo.
Pode parecer clichê, no entanto, o panorama da partida se alterou radicalmente após Klose abrir o placar. Aos 20 minutos, o goleiro Neuer bateu tiro de meta, o atacante ganhou de Upson e abriu o marcador. Uma falha primária de um sistema defensivo considerado um dos melhores do mundo.
Com um lugar nas quartas de final em jogo, a partida ganhou contornos emocionantes. A Alemanha, com um time mais leve e envolvente, ampliou com Posdolski, que tirou de James depois de bonita troca de passes. À esta altura, a Inglaterra lançou-se ao ataque. Com mais coração do que organização, o English Team diminuiu com Upson, de cabeça.
Aos 38 minutos, um lance que entra para a História como um dos erros mais graves de arbitragem em Copas do Mundo. De fora da área, Lampard encobriu o goleiro Neuer, a bola bateu no travessão e quicou dentro do gol. Um empate legítimo que a arbitragem não validou. A Inglaterra, campeã em 1966 com um gol ilegal de Geoff Hurst, provou do veneno sentido pelos germânicos, vice-campeões daquela Copa.
TUDO OU NADA
Os ingleses voltaram com grande ímpeto. Aos seis, Lampard, do meio da rua, carimbou o travessão de Neuer. Foi interessante notar que a Alemanha, mesmo em vantagem, não abdicou do ataque. Ao contrário, o time buscou ampliar o placar e liquidar a fatura.
Os 45 minutos finais do jogo andaram na contramão do que vem sendo demonstrado nos gramados africanos. A busca frenética manteve presa a respiração dos torcedores.
O terceiro e o quarto gol alemão foram uma fiel reprodução do estilo de jogo que os germânicos têm demonstrado na África do Sul. Troca de passes, velocidade e frieza. Em contra-ataque fulminante, Schweinsteiger serviu Mueller, que fulminou James. Dois minutos depois foi a vez de Lahm entregar para Mueller, que, mais uma vez, fez a festa da torcida da Alemanha.
A larga vantagem construída esfriou as esperanças britânicas. Os alemães, com inteligência, usaram o tempo a seu favor.
Segue a Alemanha na Copa do Mundo. Com o peso da camisa e embalada pela goleada no rival, a equipe aguarda o resultado de Argentina x México. Os ingleses, mais uma vez, voltam para Londres com a sensação de que as expectativas criadas em torno de sua sua seleção foram um pouco desmedidas.
FICHA TÉCNICA:
ALEMANHA 4 X 1 INGLATERRA
Estádio: Free State Stadium, em Bloemfontein (AFS)
Data/hora: 27/6/2010 – 11h (de Brasília)
Árbitro: Jorge Larrionda (URU)
Cartões amarelos: Friedrich (ALE)
Cartões vermelhos: Nenhum
GOLS: Klose, 20’/1ºT (1-0); Podolski, 32’/1ºT (2-0); Upson, 37’/1ºT (1-2); Muller, 21’/2ºT (3-1), Muller, 24’/2ºT (4-1),
ALEMANHA: Neuer; Lahm, Mertesacker, Friedrich e Boateng; Khedira, Schweinsteiger, Müeller (Trochowski,26’/2ºT). e Özil (Kiessling, 38’/2ºT).; Podolski e Klose (Gomez,27’/2ºT). .Técnico: Joachim Löw.
INGLATERRA: James; Johnson, Upson, Terry e Ashley Cole; Barry, Lampard, Gerrard e Milner (Joe Cole, 19’/2ºT); Rooney e Defoe (Heskey,25’/2ºT). Técnico: Fabio Capello.
Fonte: LanceNet